segunda-feira, 30 de julho de 2012

Pedalando no velódromo

Olhando algumas das atualizações na internet  encontrei a foto da Equipe Caloi de ciclismo de pista. 
 
Olhando a foto fiquei vendo o velódromo no fundo,  lembrei da minha adolescência.
Na época quando  tinha um caderno de anotações. No caderno anotava as minhas viagens de bicicleta, primeiro com uma Monareta, depois uma Barra Circular, depois Monark 10 e então com uma Caloi 10, um sonho de consumo da época. Na contra capa do caderno colei uma foto, recorte de alguma revista, de um velódromo de madeira, provavelmente  do Vigorelli de Milão (http://www.vigorelli.org/index.html ).  Após cada pedal anotava no caderno o percurso, data, distancia a tempo, não existia ciclo computador e não tinha um velocímetro. A foto do velódromo era um sonho de algum dia pedalar em um, coberto, inclinado de madeira e limpo. Sonhava em conhecer algum, te-lo perto de casa para pedalar com a minha velha Caloi 10.
Lembrei também do ciclista Eder Costa Barcelos, que treina sozinho em uma pista asfaltada de atletismo com 400m, que pedala 45km em uma hora, que gira vinte e nove mil quilômetros por ano movido por paixão, que usa uma Monark 10 para fazer isto, que treina duas vezes por dia e que não conhece um velódromo.

 Lembrei que, mesmo que em uma bicicleta de pinhão fixo, a roda gira, o mundo gira e o sonho ficou esquecido. Hoje pedalo em uma bici de pinhão fixo, perto ou longe, no asfalto ou paralelepípedos, na cidade ou viajando, mas nunca pedalei em um velódromo, nem de concreto.  
Fiquei pensando que a equipe da Caloi terá uma missão que parece impossível, conseguir alguma medalha para o Brasil em ciclismo de pista nas olimpíadas do Rio 2016. O trabalho será grande e serão muitas as dificuldades, mas os atletas da equipe Caloi já podem se considerar privilegiados, pois pedalam em um velódromo.
 Lembrei que estão querendo desmontar  o velódromo existente para a construção de outro para as olimpíadas. Um Brasil tão grande e não tem um velódromo olímpico?
 Bom seria se todos os adolescentes ciclistas e os ciclistas apaixonados, os “Eders”,  tivessem a oportunidade de um dia treinar em um velódromo.
Como disse um ciclista do Burkina Faso:"..., o problema é encontrar o que comer".
Parabéns a Caloi.
Bons treinos e muita garra aos ciclistas.
Bons sonhos para quem pedala.

 Luiz M. Faccin
Julho 2012

terça-feira, 27 de março de 2012

Relato 7º Papacorrida

Largada com corrida na área urbana. Com 500 metros o meu companheiro de dupla já pediu para diminuir o ritmo. Seguimos mais lentos e pensei: logo seremos os últimos, mas isto não aconteceu. Corremos em ritmo de pernas curtas. Logo após o PC-1 a travessia do arroio sem dificuldades. Na trilha estávamos intercalando corrida com caminhada. Caminhando a subir pegava a mão do companheiro que seguia rebocado.

Minha intenção era de seguir o maior tempo possível próximo a outras equipes o que seria psicológicamente melhor, mas ao mesmo tempo era preciso respeitaros limites do meu pequeno companheiro. Nas trilhas do alto do morro avistamos várias duplas no caminho errado, sinal de que por algum tempo teríamos alguém por perto.

No Pc-2 realizamos uma rápida parada para a foto, ter tempo de folga é outro papo!! Logo depois nas pedras lisas seguia ajudando e orientando meu companheiro skatista que estava utilizando um tênis bom para skate, mas não para corrida de aventura. Não tivemos tempos de conseguir um tênis melhor, pois decidi participar da prova nos últimos dias. O maior problema os trechos mais técnicos. Mato, capim, buracos, subida não estavam alterando muito o nosso ritmo.

Chegamos na travessia do arroio com água gelada, apenas no inicio. Colocamos os coletes, óculos, planilha e também as luvas do meu companheiro na mochila. Meu companheiro já participou de competições de natação e a água não foi problema, mas o barro sim. Tênis ruim cheio de barro fica pior ainda. No arroio encontramos vários duplas e solo procurando o caminho correto. Mais um trecho de nado e a saída do arroio era em um barranco liso com lama. Alcancei a corda e subi até um ponto intermediário. Segurei a corda com a mão direita e com a esquerda peguei o braço do meu companheiro que foi içado para cima até onde estava. Tive que avisar, se segura na corda senão iremos ficar aqui, pois não posso largar a corda e nem te soltar. Ter um companheiro de dupla pequeno em algum momento pode ser vantagem.

Novamente na trilha e seguimos caminhando e correndo próximo a várias duplas. A trilha seguia contornando a lavoura até uma casa formando uma curva. Todas as duplas estavam seguindo o contorno e eu comecei a cortar caminho por lavoura. Meu companheiro de dupla queria seguir os demais e disse: aqui é mais perto. Ele disse: me espera! Repetiu me espera várias vezes durante a prova, algumas vezes escutei e em outras não!

Chegar no AT já foi uma vitória e com bike poderíamos descansar um pouco, principalmente ele, pois eu seguia, sempre que possível, empurrando para aumentar a velocidade. Deixamos algumas equipes para trás que estavam enroladas com as bikes no inicio da pedalada. Chegando à estrada de terra o meu pequeno companheiro me fez uma pergunta sincera com uma ingenuidade infantil, mas com uma capacidade de perspectiva muito boa:

De bicicleta não vai ter aventura?

De bicicleta ele estava acostumado a andar, então não tinha muita novidade. O que é aventurar-se? É justamente enfrentar o desconhecido. Se ele estava querendo mais é porque estava gostando. A pergunta me surpreendeu e os meus pensamentos voaram. Tive dificuldade para responder sem saber exatamente o que seria aventura de bicicleta para ele.

Chegamos em mais um AT, os próximos 250 metros de subida nas pedras do arroio. Segunda pisada nas pedras e meu companheiro escorrega, os pés saem do chão e as nádegas foram os amortecedores do impacto. Estes 250 metros foram os mais lentos da prova. Subíamos pedra por pedra e eu ensinava: pisa aqui com o pé encostado na outra pedra.. Depois do PC na cascata a subida nas pedras continuava e eu seguia ajudando: usa as mãos.. As luvas ainda guardadas na minha mochila estavam fazendo falta. Depois de localizado o PC virtual descemos a encosta escorregadia. Mais ajuda: segura com a mão direita neste galho, com a direita no seguinte, gira da um passo e segura firme no próximo, se deixar escapar... Outras duplas estavam logo atrás, mas apenas uma nos ultrapassou neste curto e lento percurso.

No percurso difícil o nosso companheirismo ficou ainda maior com uma relação de mais do que amizade, uma relação paternal de confiança e respeito. Eu dava as dicas, mas as regras eram da natureza e a lei da gravidade. O julgamento e sentença imediatos: errou= caiu.

Não vou descrever cada trecho do percurso. Quando não estávamos subindo estávamos descendo. Veja a altimetria:

Na descida das caixas d água foi o ponto mais difícil. O meu companheiro sem usar luvas, escorregou e por instinto se segurou em um galho cheio de espinhos. Serviu como mais um aprendizado. Erramos o percurso apenas duas vezes e em uma destas o Miguel e a Sandra estavam conosco, mas logo corrigimos os erros e retornamos ao percurso correto.

Paramos muito pouco e as paradas foram rápidas.

Tivemos aventura com bicicleta.

Nas subidas mais difíceis usamos as seguintes opções:

1- Os dois pedalando;

2- Eu empurrando e ao mesmo tempo pedalando a minha bike;

3- Eu caminhando rápido e levando as duas bikes;

4- Eu correndo com a minha bike na mão esquerda e com a mão/braço direito empurrando o companheiro que seguia pedalando.

A descer em algumas vezes foi mais seguro desembarcar da bike. Em algum ponto do ultimo percurso de bike o meu companheiro ficou com medo e percebi que ele precisa aprender mais técnicas. Neste caso desci com a minha bike, retornei correndo e desci andando com a bike dele, foi bem divertido. Quando passamos por um dos últimos PCs as duas moças comentaram: Olha o menininho ainda esta na prova e parece bem! Foi bom escutar isto, pois sabia que algumas duplas haviam abandonado a prova e também foi importante ter mais uma opinião sobre as condições do meu companheiro.

O final da prova estava próximo e o meu companheiro perguntava: quantas folhas faltam?

Respondia: muitas, mas as ultimas estão em branco!

No ultimo percurso de bike, a dupla que estava logo a nossa frente, seguiu na estrada da direita quando a correta era na da esquerda. Meu companheiro perguntou: não é por lá. Respondi que não. Ele pergunta: tem certeza? Sim e estamos ganhando uma posição na prova.

No ultimo trecho de corrida ultrapassamos caminhando uma dupla. Três coisas estavam confirmadas: não seriamos os últimos, não estávamos mal e não reduzimos o ritmo no final. Não andávamos rápido, mas na nossa situação o andamento estava correto. A caminhada rápida na subida forte é quase tão veloz quanto pedalar e de certa forma o percurso difícil favoreceu a nossa dupla lenta e constante.

Quase na chegada o meu amigo, que já estava especialista em fazer bastão de caminhada com galhos de arvores estava caminhando com um cabo de enxada. Acho que quanto mais eu quero ensinar, mas aprendo com ele. Não sei onde encontrou isto.

Disse: logo depois do posto é a chegada.

Ele respondeu: a partir da esquina vamos correndo.

Foi mais uma pequena conquista, o guri entendeu bem o espírito de paciência, persistência e competição, apesar de tudo não passar de uma longa brincadeira. Nossa posição na prova não era importante, ficamos na décima posição entre às dezesseis duplas da categoria. Um bom resultado para um menino de quase onze anos de idade.

Foi a primeira vez que corremos juntos e nos conhecemos melhor. A cada dificuldade eu podia saber como estava o psicológico do meu filho e em nenhum momento esteve abalado.

Parabéns a organização da sétima Papacorrida, aos voluntários, apoiadores e aos participantes. Quem sabe para a próxima a gente treine!


Luiz M. Faccin- Dupla Família Faccin com Giuseppe Faccin

Março 2012.

Mais informações no site: www.papaventuras.com.br