Em 2007 pedalei o Paris Brest Paris Randonneur 1200km (PBP).
Para entendimento explico rapidamente que é um evento onde o ciclista tem até
90 horas para percorrer um percurso de 1227km com largada próxima a Paris, ida
até Brest e retorno a Paris.
Durante o percurso do PBP 2007 eu encontrava
a beira da estrada diversas pessoas, muitas crianças, oferecendo café, água,
bolo, biscoitos aos ciclistas viajantes. A cultura ciclística e a paixão pelo
ciclismo na França são bem diferentes da cultura, apenas futebolística, aqui no
Brasil. Alguns moradores ofereciam cama para pernoite aos ciclistas. Viajava
concentrado e no primeiro dia hesitei em parar nestes locais, pois não queria
perder tempo. Em um dos trechos do percurso, já no segundo dia de viagem,
resolvi parar por curiosidade e aceitei café e biscoito de um casal de
crianças. O café era bom, os biscoitos também, mas ótimo foi poder conversar
com aquelas crianças e ver a alegria destas em estar ali recebendo os
ciclistas. No alto de uma subida longa encontrei um casal que estava de carro estacionado
ao lado da estrada de onde ofereciam café, banana, água. O carro estava com o
bagageiro lotado de bananas. Aceitei uma banana, mas queria poder conversar um
pouco com aquelas pessoas. A pergunta era quase sempre a mesma: de onde você é?
Quando disse que era brasileiro o senhor ficou feliz em poder me dizer algumas
palavras em português.
Estas paradas e conversas rápidas passaram
a ser uma motivação extra para seguir pedalando. Na terceira noite, pedalava em
um trecho de floresta e avistei ao longe um grupo grande de ciclistas parados
na estrada. Imaginei um acidente de transito, o que seria o mais provável em
nossas estradas brasileiras. Cheguei perto e não avistei acidente. Não conseguia entender e só comecei a me dar
conta depois de perguntar a alguém: o que aconteceu? Esta pessoa me respondeu
de forma preocupada e apressada: Quer café, água, bolo? Estava cansadíssimo,
mas excepcionalmente vivo devido à excitação de estar ali e por ser
testemunha do que estava vendo. Em frente a um casarão várias pessoas
trabalhavam de forma anônima, gratuita e voluntária para servir os ciclistas
que estavam na maioria muito cansados.
No
Brasil, nunca mais havia presenciado algo assim e nem imaginava que algum dia
chegaria a presenciar algo semelhante aqui.
Durante a Caminhada da Imigração Italiana, chegamos defronte à casa de
alguém que, também de forma anônima, gratuita e voluntária deixou um banquete a
espera dos caminhantes participantes.
Todos me perguntavam, é para nós? Você sabia disto Faccin?
Eu apenas respondia que isto não estava programado e não estava sabendo. Um filme passou nos meus pensamentos
resgatando as sensações e lembranças do PBP. O que eu havia vivido em 2007 na
minha memória foi no dia de ontem. Fiquei muito surpreso e emocionado. Ninguém
estava ali nos esperando e não poderia seguir sem conhecer e conversas um pouco
com o morador. Fui o primeiro a chegar no portão e poder conversar com o seu
Volmar. Disse que para ele eu tirava o
chapéu, e, não apenas isto, dava o meu chapéu de presente e foi o ato simbólico
de agradecimento. Fizemos algumas fotos, mas eu não fiquei mais ali ao lado.
Voltei à estrada e os pensamentos não pararam.
Foi muito emocionante. A atitude do morador da Linha Borges foi o reflexo do espírito da Caminhada da Imigração Italiana.
Foi muito emocionante. A atitude do morador da Linha Borges foi o reflexo do espírito da Caminhada da Imigração Italiana.
“ 19-Não ajuntei para vós tesouros na terra, onde a ferrugem
e as traças corroem, onde os ladrões furtam e roubam. Ajuntei para vós tesouros
no céu, onde não os consomem nem as traças, nem as ferrugens e os ladrões não
furtam e nem roubam. Porque onde esta o teu tesouro esta também o teu coração.
22-O olho é a luz do corpo. Se teu olho é são, todo o teu corpo será
iluminado”. Mateus 6.
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Nunca mais estaremos todos juntos reunidos,
mesmo que isto acontecesse, a paisagem, o clima, não seria exatamente o mesmo.
Este dia foi único e só pudemos vive-lo uma única vez. Foi um feito incrível
ter todas estas pessoas tão legais juntas, caminhando na mesma direção em
locais tão lindos. Felizes os que tiveram esta oportunidade. Que bom poder ter
estado junto com todos vocês.
Luiz M. Faccin
"Porque onde esta o teu tesouro esta também o teu coração." Se as pessoas tivessem a alma e os olhos mais puros, valorizassem mais as relações de amizade e os bons e pequenos atos que fazem o outro sorrir, com certeza nosso mundo seria melhor. Obrigada pela lição família Biasibetti. Obrigada
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